domingo, 26 de setembro de 2010

Uma carta não enviada.

Eram 19h00min da noite e meu melhor plano para aquele final de semana era parar. Isso, assim mesmo, parada... Não iria sequer escrever. Ficaria presa comigo, e já estava de bom tamanho. Tinha um ou outro filme em mente, mas se não funcionasse, tudo bem. Arrastaria o meu pijama por toda a casa (blusas de manga comprida que engoliam os meus braços e calças que faziam desaparecer as minhas pernas), café frio, uma canção triste para cantar, livro para ler 3 ou 4 vezes, tristeza para acalmar e uma insônia para divagar. Porém a dimensão do meu quarto estava me sufocando. Em meio ao desespero, dor e agonia, ao fundo um vago sussurro escondido atrás de uma avalanche de pensamentos clamava a destruição daquelas paredes. Meu pulmão pedia respiração de outros ares e, meu corpo queria espalhar minha essência machucada em outros arredores.  Procedendo ao êxito, coloquei em meu corpo minha roupa favorita e fui um tanto desnorteada vagar pela Av. Paulista. Como se fosse óbvio, caminhei no piloto automático para a R. Augusta. A Augusta nunca soou como um lugar produtivo, a maioria das pessoas vai à procura de sexo e drogas. Mas, eu só estava com vontade de molhar os lábios com café e fumar alguns cigarros, como se eu não existe. E era isso que eu queria: passar despercebida pelos outros. Então, fui ao café, em frente ao Vitrine, experimentar novas cadeiras. Na verdade, eu sempre achei que se eu fosse estudar naquele café religiosamente por todos os dias acabaria por encontrar o amor da minha vida. Só que eu não tenho dinheiro pra comprar dois capuccinos e um pedaço de bolo todo dia… Mas, naquele dia eu estava testando a minha sorte. Na terceira tragada do meu segundo cigarro, senti aquele lugar mais celestial, uma energia invadiu com a fúria de uma corrente. Olhares incompreensíveis para a presença de um anjo de pele branca e cabelos ruivos. Era ela. Ela causou um significativo motivo de minha presença ali. Ela era tão distraída... Acendia o cigarro pelo filtro, mas sabia tragar aquele câncer doce para dentro de si com a mesma facilidade que tragava toda a minha atenção. Porém, quando fora esta, ela tossia, jogava-me para fora de seu corpo e de sua mente. Era como se eu fosse indiferente a ela. Ou talvez, todos ali fossem. Ela parecia apenas uma pescadora sentada em seu barco que não ligava para os peixes. Quem sabe, ela queria se livrar da culpa do corte que o anzol causa? Eu não me importaria em ter cortes em meus lábios, mas eu não queria ser seu peixe. Eu queria sentar ao seu lado no barco e navegar sem rumo certo. Parecia uma flor que não estava viva nem morta, porque ninguém a regou durante semanas. Rodava em minha mente como o som de uma fita de vídeo qualquer, como seria o seu cheiro. Seria pesado? Como de quem acorda desnorteada depois de sonhar durante muito tempo? Se sua voz era fina, se falava timidamente com leves pausas para achar uma palavra certa... Sorte ou destino, ela sentou-se estrategicamente próxima a mim. Não que eu pretendesse arriscar algum contato, preferia me resumir ao meu cigarro e observa-la de longe, o que já arrancava alguns tremores de minhas mãos e pernas. Aquele jeans desenhou perfeitamente aquelas pernas magras, e a suas caras e bocas, entre uma tragada e outra me deixava intrigada a entrar em sua mente e descobrir o que se passara por ali. Ela nem me notara, e eu perdera qualquer prévia esperança de que pudera ser eu, mas ainda assim, eu gostaria de saber os pensamentos que assombravam aquele ser tão angelical com um toque genuíno de sensualidade. Descobri naquele instante, que aquela poderia ser a primeira - e última - vez que eu veria tamanha beleza diante dos meus olhos, e meu corpo se petrificou ali mesmo. Quanto mais os ponteiros do velho relógio giravam, mais eu ficava enfeitiçada. Mas eu desejara um contato, uma palavra trocada... Ou nem precisaríamos dizer nada, ela poderia dividir a mesa comigo, poderíamos dividir um cigarro, uma bebida. Poderíamos dividir um beijo... Eu queria tanto ser parte dela, ao menos aquela noite. Nesta busca por descobrir o teu gosto, teu jeito, o som de sua risada e a sua cara quando fica sem graça, eu me perdi em pensamentos. Comecei a imaginar nossos corpos entrelaçados, nossos dedos, nossas vidas. Era uma recém-chegada em minha mente, que aparentou ter sido feita para ocupar aquele lugar... De longe, consegui perceber como ela era tão complexamente imperfeita. Defeitos notáveis que se tornavam maravilhas aos meus olhos. Olhos estes que clamavam por uma reciprocidade de olhares, por um esbarro mesmo que sem querer... Novamente, me perdi em minha mente tentando ver como seria se tal cena acontecesse.. Ela, eu, nossos cigarros e uma bebida barata, todos misturados e nossas almas contempladas naquele lugar. Despertara dessas imagens que se formavam em mim, quando meu cigarro caira de minhas mãos, e ao abrir os olhos,pude notar que a - minha - doce pequenina, havia partido... Eu queria ter encontrado a maneira e as razões que a fizesse ficar. Não havia mais interações amorosas nenhuma, meus profundos cortes desprovidos de sentimentalismo deram o seu alarme. Quando latejam, a frieza se esvai, o amor vira pó e não há mais o que fazer.

2 comentários:

  1. Juntando o seu com o meu, será q dá um curta? quem sabe...

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  2. Provavelmente. Mas, poderemos nos contemplar na escuridão.

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