sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Listen to the silence.

Água fervente escorrendo sobre o corpo, vitrô fechado e espelho embaçado. Chão gelado, olhos vermelhos e cabelo embaraçado. Fumaça aromática inalada, um nome de seis letras escrito no reflexo, seguido por love will tear us apart. Passos leves divagando pelos corredores da casa, olhos percorrem toda a superfície, viciados em notar imperfeições. Café borbulhando, bolo no forno e aranha em sua teia. Tragadas no cigarro apagado, cartas separadas do baralho e o jogo da solidão. Abismo cavado por seus pés, falsas promessas e declarações exageradas. Afoga-se em lençóis, contemplando-se à escuridão e o silencio nunca soou tão bem.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ancorada em alto-mar

A vida continua a mesma, ou seja, sendo vivida. Faz tempo que ela está sendo um tanto quanto monótona, mas fico frequentemente bêbada, isso quando meus amigos estão dispostos a pagar a minha parte. Eu tenho amigos generosos e de verdade, o que é ótimo. Desisti momentaneamente de homens e mulheres pelo fato deles me considerarem descartáveis pelo mesmo motivo: falta de futuro aparente. O que não é novidade nenhuma. Tenho comido pouco, dormido mal, o olhar agora é vago e parece meio embaçado, embaçado como vidro fosco. Meus sorrisos são limitados e raros. Tenho passado muito tempo olhando para o teto e memorizando o tempo em que eu ainda tinha paciência para lidar com as pessoas, de quando eu lutava pelas minhas gritantes vontades. Agora, os meus desejos estão enlatados. A minha janela para o mundo avista fronteiras angustiantes de minha limitação. Não há maiores emoções. Sinto-me em um barco ancorado em alto-mar. Não vejo mais a minha estrada, perdi o senso de direção. Não há mais visualizações de bordas e novas frustrações que consomem as minhas expectativas. Meu coração se afoga em chuva de lágrimas. Meu corpo espera ansioso pelo dia em que os ventos mudarão de direção e eu consiga me desancorar e finalmente voltar à minha estrada.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Hoje eu já ri a toa. Hoje eu chorei por ela. Hoje eu quis morrer. Hoje eu quis sair e atropelar todo mundo. Hoje eu quis beber. Hoje eu quis fumar. Hoje eu quis morrer duas vezes. Hoje eu chorei duas vezes, ou mais. Por ela, por mim, por nós. Hoje eu não quero dormir. Quero que hoje se prolongue bastante, quero ser uma merda, assim, por bastante tempo, mas só por hoje. Dá pra entender? Só quero viver. Como não venho fazendo nos últimos dias. Destruir nossos laços, acabar com velhos hábitos, deixar a velha cidade pra trás. Mas eu não consigo, meu passado me condena, e me prende. Meu passado é uma merda. Sabe, eu sou uma merda...

domingo, 26 de setembro de 2010

Uma carta não enviada.

Eram 19h00min da noite e meu melhor plano para aquele final de semana era parar. Isso, assim mesmo, parada... Não iria sequer escrever. Ficaria presa comigo, e já estava de bom tamanho. Tinha um ou outro filme em mente, mas se não funcionasse, tudo bem. Arrastaria o meu pijama por toda a casa (blusas de manga comprida que engoliam os meus braços e calças que faziam desaparecer as minhas pernas), café frio, uma canção triste para cantar, livro para ler 3 ou 4 vezes, tristeza para acalmar e uma insônia para divagar. Porém a dimensão do meu quarto estava me sufocando. Em meio ao desespero, dor e agonia, ao fundo um vago sussurro escondido atrás de uma avalanche de pensamentos clamava a destruição daquelas paredes. Meu pulmão pedia respiração de outros ares e, meu corpo queria espalhar minha essência machucada em outros arredores.  Procedendo ao êxito, coloquei em meu corpo minha roupa favorita e fui um tanto desnorteada vagar pela Av. Paulista. Como se fosse óbvio, caminhei no piloto automático para a R. Augusta. A Augusta nunca soou como um lugar produtivo, a maioria das pessoas vai à procura de sexo e drogas. Mas, eu só estava com vontade de molhar os lábios com café e fumar alguns cigarros, como se eu não existe. E era isso que eu queria: passar despercebida pelos outros. Então, fui ao café, em frente ao Vitrine, experimentar novas cadeiras. Na verdade, eu sempre achei que se eu fosse estudar naquele café religiosamente por todos os dias acabaria por encontrar o amor da minha vida. Só que eu não tenho dinheiro pra comprar dois capuccinos e um pedaço de bolo todo dia… Mas, naquele dia eu estava testando a minha sorte. Na terceira tragada do meu segundo cigarro, senti aquele lugar mais celestial, uma energia invadiu com a fúria de uma corrente. Olhares incompreensíveis para a presença de um anjo de pele branca e cabelos ruivos. Era ela. Ela causou um significativo motivo de minha presença ali. Ela era tão distraída... Acendia o cigarro pelo filtro, mas sabia tragar aquele câncer doce para dentro de si com a mesma facilidade que tragava toda a minha atenção. Porém, quando fora esta, ela tossia, jogava-me para fora de seu corpo e de sua mente. Era como se eu fosse indiferente a ela. Ou talvez, todos ali fossem. Ela parecia apenas uma pescadora sentada em seu barco que não ligava para os peixes. Quem sabe, ela queria se livrar da culpa do corte que o anzol causa? Eu não me importaria em ter cortes em meus lábios, mas eu não queria ser seu peixe. Eu queria sentar ao seu lado no barco e navegar sem rumo certo. Parecia uma flor que não estava viva nem morta, porque ninguém a regou durante semanas. Rodava em minha mente como o som de uma fita de vídeo qualquer, como seria o seu cheiro. Seria pesado? Como de quem acorda desnorteada depois de sonhar durante muito tempo? Se sua voz era fina, se falava timidamente com leves pausas para achar uma palavra certa... Sorte ou destino, ela sentou-se estrategicamente próxima a mim. Não que eu pretendesse arriscar algum contato, preferia me resumir ao meu cigarro e observa-la de longe, o que já arrancava alguns tremores de minhas mãos e pernas. Aquele jeans desenhou perfeitamente aquelas pernas magras, e a suas caras e bocas, entre uma tragada e outra me deixava intrigada a entrar em sua mente e descobrir o que se passara por ali. Ela nem me notara, e eu perdera qualquer prévia esperança de que pudera ser eu, mas ainda assim, eu gostaria de saber os pensamentos que assombravam aquele ser tão angelical com um toque genuíno de sensualidade. Descobri naquele instante, que aquela poderia ser a primeira - e última - vez que eu veria tamanha beleza diante dos meus olhos, e meu corpo se petrificou ali mesmo. Quanto mais os ponteiros do velho relógio giravam, mais eu ficava enfeitiçada. Mas eu desejara um contato, uma palavra trocada... Ou nem precisaríamos dizer nada, ela poderia dividir a mesa comigo, poderíamos dividir um cigarro, uma bebida. Poderíamos dividir um beijo... Eu queria tanto ser parte dela, ao menos aquela noite. Nesta busca por descobrir o teu gosto, teu jeito, o som de sua risada e a sua cara quando fica sem graça, eu me perdi em pensamentos. Comecei a imaginar nossos corpos entrelaçados, nossos dedos, nossas vidas. Era uma recém-chegada em minha mente, que aparentou ter sido feita para ocupar aquele lugar... De longe, consegui perceber como ela era tão complexamente imperfeita. Defeitos notáveis que se tornavam maravilhas aos meus olhos. Olhos estes que clamavam por uma reciprocidade de olhares, por um esbarro mesmo que sem querer... Novamente, me perdi em minha mente tentando ver como seria se tal cena acontecesse.. Ela, eu, nossos cigarros e uma bebida barata, todos misturados e nossas almas contempladas naquele lugar. Despertara dessas imagens que se formavam em mim, quando meu cigarro caira de minhas mãos, e ao abrir os olhos,pude notar que a - minha - doce pequenina, havia partido... Eu queria ter encontrado a maneira e as razões que a fizesse ficar. Não havia mais interações amorosas nenhuma, meus profundos cortes desprovidos de sentimentalismo deram o seu alarme. Quando latejam, a frieza se esvai, o amor vira pó e não há mais o que fazer.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Fundo do poço.

Beber pra mim foi sempre uma saída, a solução para todos os meus problemas. A solução para os problemas de todo mundo. Mas, o maior problema é que para alguns problemas nem doses cavalares de cachaça ajudam, daí você tem que passar para a próxima fase de autodestruição. É o que chamo de visualização do fundo do poço. Eu já passei por isso. Só não digo que estive no fundo do poço porque isso é algo muito relativo. Não existe o tal fundo do poço pelo simples motivo que você sempre pode piorar a sua situação, não há nada que você sinta ou passe que não possa ser piorado. A questão é você saber se quer sair do poço ou simplesmente ir mais fundo. E essa é uma questão complicada. Não sei o que se passa comigo, se eu faço isso por desespero ou por curiosidade, mas chegar perto do fundo do poço foi sempre algo que eu busquei, sendo consciente ou inconscientemente. Um tipo de prova que eu tenho que passar. Mas muito mais difícil do que chegar ao fundo do poço, é conseguir sair de lá. E quando se está no fundo se está sozinho, ninguém além de você vai poder te ajudar. Não existe purgatório pior do que esse. A salvação se encontra muito longe, muitas vezes a luz no começo do poço nem pode mais ser vista, e se você não consegue ver uma saída no escuro será muito mais difícil. Algumas pessoas realmente descem fundo no poço. E quando não há luz de esperança só há escuridão cheia de desespero, e se desesperar na escuridão do poço é o pior que alguém pode fazer. Muitas vezes esse é um caminho sem volta. Quando me sinto mal eu não procuro uma coisa que me ajude. Quero sentir em mim o pior do mundo. Quero cada vez mais; mais e pior. Quero saber até quão fundo posso ir. Por algum motivo eu sei que quem visitou o fundo do poço e conseguiu sair de lá (nunca ileso, porque você nunca volta do mesmo jeito que foi) ele será a pessoa mais realizada do mundo. Você conheceu o inferno e conseguiu voltar para contar sua história. Talvez a saída esteja no fundo do poço. Quem sabe?

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Nenhum novo dia do ano para comemorar, nenhum chocolate com açúcar cristalizado no centro para distribuir, nenhum começo de primavera, nenhuma canção para cantar. Nenhuma chuva de abril, nenhuma flor a desabrochar, nenhum sábado com casamento no mês de junho. Nenhum verão quente, nenhum julho morno, nenhuma luz da lua para colher uma noite tenra de agosto, nenhuma brisa de outono, nenhuma folha caindo. Nem mesmo tempo de os pássaros voarem para os céus do sul. Nenhuma constelação do sol, nenhum dia das bruxas, nenhum obrigado por toda alegria que você traz no natal. Nenhuma boa nova. De fato é apenas um dia normal.

terça-feira, 14 de setembro de 2010


H. diz:
Acho que cansei
A. diz:
De que?
H. diz:
De tudo
A. diz:
Explique-se.
H. diz:
Não sei, cansei só. De tudo e todos. Cansei de perder as pessoas, cansei dos meus rolos, cansei de homens, cansei de mulheres, cansei da minha casa, cansei da minha cara, cansei dos meus amigos, canseis dos mesmos papos todos os dias, cansei das minhas matérias, cansei de estudar no uni, cansei de morar aqui, cansei da minha mãe, cansei do nivas, cansei do bob, cansei de computador, cansei de celular, cansei das minhas músicas, cansei da academia. Cansei. Acho que só não estou cansada de você
A. diz:
Por que essa transformação? Olha, confesso que no estado em que me encontro, eu não me importaria se só tivesse você e eu no mundo. Estou como você.
H. diz:
Não sei. Só que eu cansei, cara. Preciso de uma mudança, uma repaginada. Preciso mudar até meu cabelo... Mudanças. Sério, podemos esvaziar o mundo, tipo, já?
A. diz:
Podemos, vamos exterminar todos. Nem que seja apenas em nossa mente. Queria tanto uma mudança radical, tipo, começar do zero. Junto com você.
Eu sinto como se tivesse nascido um corte dentro mim que é desprovido de sentimentos.
H. diz:
Eu sinto a mesma coisa, ou pelo menos quase isso... Na verdade, agora eu só me sinto de saco cheio, do mundo.
A. diz:
É, estou cansada dessa rotina.
Ou talvez, das pessoas que a habitam.
H. diz:
Ou talvez, dos dois.
A. diz:
Sim, estou cansada de tudo que não envolva você.
H. diz:
Acho que sua mãe estava certa, somos almas gêmeas.