quarta-feira, 29 de setembro de 2010

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ancorada em alto-mar

A vida continua a mesma, ou seja, sendo vivida. Faz tempo que ela está sendo um tanto quanto monótona, mas fico frequentemente bêbada, isso quando meus amigos estão dispostos a pagar a minha parte. Eu tenho amigos generosos e de verdade, o que é ótimo. Desisti momentaneamente de homens e mulheres pelo fato deles me considerarem descartáveis pelo mesmo motivo: falta de futuro aparente. O que não é novidade nenhuma. Tenho comido pouco, dormido mal, o olhar agora é vago e parece meio embaçado, embaçado como vidro fosco. Meus sorrisos são limitados e raros. Tenho passado muito tempo olhando para o teto e memorizando o tempo em que eu ainda tinha paciência para lidar com as pessoas, de quando eu lutava pelas minhas gritantes vontades. Agora, os meus desejos estão enlatados. A minha janela para o mundo avista fronteiras angustiantes de minha limitação. Não há maiores emoções. Sinto-me em um barco ancorado em alto-mar. Não vejo mais a minha estrada, perdi o senso de direção. Não há mais visualizações de bordas e novas frustrações que consomem as minhas expectativas. Meu coração se afoga em chuva de lágrimas. Meu corpo espera ansioso pelo dia em que os ventos mudarão de direção e eu consiga me desancorar e finalmente voltar à minha estrada.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Hoje eu já ri a toa. Hoje eu chorei por ela. Hoje eu quis morrer. Hoje eu quis sair e atropelar todo mundo. Hoje eu quis beber. Hoje eu quis fumar. Hoje eu quis morrer duas vezes. Hoje eu chorei duas vezes, ou mais. Por ela, por mim, por nós. Hoje eu não quero dormir. Quero que hoje se prolongue bastante, quero ser uma merda, assim, por bastante tempo, mas só por hoje. Dá pra entender? Só quero viver. Como não venho fazendo nos últimos dias. Destruir nossos laços, acabar com velhos hábitos, deixar a velha cidade pra trás. Mas eu não consigo, meu passado me condena, e me prende. Meu passado é uma merda. Sabe, eu sou uma merda...

domingo, 26 de setembro de 2010

Uma carta não enviada.

Eram 19h00min da noite e meu melhor plano para aquele final de semana era parar. Isso, assim mesmo, parada... Não iria sequer escrever. Ficaria presa comigo, e já estava de bom tamanho. Tinha um ou outro filme em mente, mas se não funcionasse, tudo bem. Arrastaria o meu pijama por toda a casa (blusas de manga comprida que engoliam os meus braços e calças que faziam desaparecer as minhas pernas), café frio, uma canção triste para cantar, livro para ler 3 ou 4 vezes, tristeza para acalmar e uma insônia para divagar. Porém a dimensão do meu quarto estava me sufocando. Em meio ao desespero, dor e agonia, ao fundo um vago sussurro escondido atrás de uma avalanche de pensamentos clamava a destruição daquelas paredes. Meu pulmão pedia respiração de outros ares e, meu corpo queria espalhar minha essência machucada em outros arredores.  Procedendo ao êxito, coloquei em meu corpo minha roupa favorita e fui um tanto desnorteada vagar pela Av. Paulista. Como se fosse óbvio, caminhei no piloto automático para a R. Augusta. A Augusta nunca soou como um lugar produtivo, a maioria das pessoas vai à procura de sexo e drogas. Mas, eu só estava com vontade de molhar os lábios com café e fumar alguns cigarros, como se eu não existe. E era isso que eu queria: passar despercebida pelos outros. Então, fui ao café, em frente ao Vitrine, experimentar novas cadeiras. Na verdade, eu sempre achei que se eu fosse estudar naquele café religiosamente por todos os dias acabaria por encontrar o amor da minha vida. Só que eu não tenho dinheiro pra comprar dois capuccinos e um pedaço de bolo todo dia… Mas, naquele dia eu estava testando a minha sorte. Na terceira tragada do meu segundo cigarro, senti aquele lugar mais celestial, uma energia invadiu com a fúria de uma corrente. Olhares incompreensíveis para a presença de um anjo de pele branca e cabelos ruivos. Era ela. Ela causou um significativo motivo de minha presença ali. Ela era tão distraída... Acendia o cigarro pelo filtro, mas sabia tragar aquele câncer doce para dentro de si com a mesma facilidade que tragava toda a minha atenção. Porém, quando fora esta, ela tossia, jogava-me para fora de seu corpo e de sua mente. Era como se eu fosse indiferente a ela. Ou talvez, todos ali fossem. Ela parecia apenas uma pescadora sentada em seu barco que não ligava para os peixes. Quem sabe, ela queria se livrar da culpa do corte que o anzol causa? Eu não me importaria em ter cortes em meus lábios, mas eu não queria ser seu peixe. Eu queria sentar ao seu lado no barco e navegar sem rumo certo. Parecia uma flor que não estava viva nem morta, porque ninguém a regou durante semanas. Rodava em minha mente como o som de uma fita de vídeo qualquer, como seria o seu cheiro. Seria pesado? Como de quem acorda desnorteada depois de sonhar durante muito tempo? Se sua voz era fina, se falava timidamente com leves pausas para achar uma palavra certa... Sorte ou destino, ela sentou-se estrategicamente próxima a mim. Não que eu pretendesse arriscar algum contato, preferia me resumir ao meu cigarro e observa-la de longe, o que já arrancava alguns tremores de minhas mãos e pernas. Aquele jeans desenhou perfeitamente aquelas pernas magras, e a suas caras e bocas, entre uma tragada e outra me deixava intrigada a entrar em sua mente e descobrir o que se passara por ali. Ela nem me notara, e eu perdera qualquer prévia esperança de que pudera ser eu, mas ainda assim, eu gostaria de saber os pensamentos que assombravam aquele ser tão angelical com um toque genuíno de sensualidade. Descobri naquele instante, que aquela poderia ser a primeira - e última - vez que eu veria tamanha beleza diante dos meus olhos, e meu corpo se petrificou ali mesmo. Quanto mais os ponteiros do velho relógio giravam, mais eu ficava enfeitiçada. Mas eu desejara um contato, uma palavra trocada... Ou nem precisaríamos dizer nada, ela poderia dividir a mesa comigo, poderíamos dividir um cigarro, uma bebida. Poderíamos dividir um beijo... Eu queria tanto ser parte dela, ao menos aquela noite. Nesta busca por descobrir o teu gosto, teu jeito, o som de sua risada e a sua cara quando fica sem graça, eu me perdi em pensamentos. Comecei a imaginar nossos corpos entrelaçados, nossos dedos, nossas vidas. Era uma recém-chegada em minha mente, que aparentou ter sido feita para ocupar aquele lugar... De longe, consegui perceber como ela era tão complexamente imperfeita. Defeitos notáveis que se tornavam maravilhas aos meus olhos. Olhos estes que clamavam por uma reciprocidade de olhares, por um esbarro mesmo que sem querer... Novamente, me perdi em minha mente tentando ver como seria se tal cena acontecesse.. Ela, eu, nossos cigarros e uma bebida barata, todos misturados e nossas almas contempladas naquele lugar. Despertara dessas imagens que se formavam em mim, quando meu cigarro caira de minhas mãos, e ao abrir os olhos,pude notar que a - minha - doce pequenina, havia partido... Eu queria ter encontrado a maneira e as razões que a fizesse ficar. Não havia mais interações amorosas nenhuma, meus profundos cortes desprovidos de sentimentalismo deram o seu alarme. Quando latejam, a frieza se esvai, o amor vira pó e não há mais o que fazer.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Fundo do poço.

Beber pra mim foi sempre uma saída, a solução para todos os meus problemas. A solução para os problemas de todo mundo. Mas, o maior problema é que para alguns problemas nem doses cavalares de cachaça ajudam, daí você tem que passar para a próxima fase de autodestruição. É o que chamo de visualização do fundo do poço. Eu já passei por isso. Só não digo que estive no fundo do poço porque isso é algo muito relativo. Não existe o tal fundo do poço pelo simples motivo que você sempre pode piorar a sua situação, não há nada que você sinta ou passe que não possa ser piorado. A questão é você saber se quer sair do poço ou simplesmente ir mais fundo. E essa é uma questão complicada. Não sei o que se passa comigo, se eu faço isso por desespero ou por curiosidade, mas chegar perto do fundo do poço foi sempre algo que eu busquei, sendo consciente ou inconscientemente. Um tipo de prova que eu tenho que passar. Mas muito mais difícil do que chegar ao fundo do poço, é conseguir sair de lá. E quando se está no fundo se está sozinho, ninguém além de você vai poder te ajudar. Não existe purgatório pior do que esse. A salvação se encontra muito longe, muitas vezes a luz no começo do poço nem pode mais ser vista, e se você não consegue ver uma saída no escuro será muito mais difícil. Algumas pessoas realmente descem fundo no poço. E quando não há luz de esperança só há escuridão cheia de desespero, e se desesperar na escuridão do poço é o pior que alguém pode fazer. Muitas vezes esse é um caminho sem volta. Quando me sinto mal eu não procuro uma coisa que me ajude. Quero sentir em mim o pior do mundo. Quero cada vez mais; mais e pior. Quero saber até quão fundo posso ir. Por algum motivo eu sei que quem visitou o fundo do poço e conseguiu sair de lá (nunca ileso, porque você nunca volta do mesmo jeito que foi) ele será a pessoa mais realizada do mundo. Você conheceu o inferno e conseguiu voltar para contar sua história. Talvez a saída esteja no fundo do poço. Quem sabe?

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Nenhum novo dia do ano para comemorar, nenhum chocolate com açúcar cristalizado no centro para distribuir, nenhum começo de primavera, nenhuma canção para cantar. Nenhuma chuva de abril, nenhuma flor a desabrochar, nenhum sábado com casamento no mês de junho. Nenhum verão quente, nenhum julho morno, nenhuma luz da lua para colher uma noite tenra de agosto, nenhuma brisa de outono, nenhuma folha caindo. Nem mesmo tempo de os pássaros voarem para os céus do sul. Nenhuma constelação do sol, nenhum dia das bruxas, nenhum obrigado por toda alegria que você traz no natal. Nenhuma boa nova. De fato é apenas um dia normal.

terça-feira, 14 de setembro de 2010


H. diz:
Acho que cansei
A. diz:
De que?
H. diz:
De tudo
A. diz:
Explique-se.
H. diz:
Não sei, cansei só. De tudo e todos. Cansei de perder as pessoas, cansei dos meus rolos, cansei de homens, cansei de mulheres, cansei da minha casa, cansei da minha cara, cansei dos meus amigos, canseis dos mesmos papos todos os dias, cansei das minhas matérias, cansei de estudar no uni, cansei de morar aqui, cansei da minha mãe, cansei do nivas, cansei do bob, cansei de computador, cansei de celular, cansei das minhas músicas, cansei da academia. Cansei. Acho que só não estou cansada de você
A. diz:
Por que essa transformação? Olha, confesso que no estado em que me encontro, eu não me importaria se só tivesse você e eu no mundo. Estou como você.
H. diz:
Não sei. Só que eu cansei, cara. Preciso de uma mudança, uma repaginada. Preciso mudar até meu cabelo... Mudanças. Sério, podemos esvaziar o mundo, tipo, já?
A. diz:
Podemos, vamos exterminar todos. Nem que seja apenas em nossa mente. Queria tanto uma mudança radical, tipo, começar do zero. Junto com você.
Eu sinto como se tivesse nascido um corte dentro mim que é desprovido de sentimentos.
H. diz:
Eu sinto a mesma coisa, ou pelo menos quase isso... Na verdade, agora eu só me sinto de saco cheio, do mundo.
A. diz:
É, estou cansada dessa rotina.
Ou talvez, das pessoas que a habitam.
H. diz:
Ou talvez, dos dois.
A. diz:
Sim, estou cansada de tudo que não envolva você.
H. diz:
Acho que sua mãe estava certa, somos almas gêmeas.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010


Era sexta-feira. Aconteceu algo inusitado: uma garota da minha classe me chamou para sair com os amigos dela, meio intimidada eu aceitei, mas não levei aquilo muito a sério, afinal, nós não conversávamos direito. Ela disse para eu estar na casa dela as 19:00 horas, mas a minha vontade de ficar em casa olhando o teto era tão atentadora que eu desisti e ensaiei alguma desculpa esfarrapada para dar a ela na segunda. Eram 20:30 e eu havia acabado de sair do banho quando a campainha tocou. Troquei-me rapidamente e sai na varanda e adivinhem? Era ela e seus dez amigos, - muito bonitos, por sinal – então, eu desci com a cabeça baixa, pois não sabia aonde enfiar a minha cara de tanta vergonha por ter “dado o cano’’ nela. Ela foi muito compreensiva e me convenceu a ir ao Stones. Sempre fui uma grande fã do Stones (as casas de todas as casas) e sempre que meu dinheiro permitia, eu passava por lá. Era um ótimo lugar para conhecer pessoas interessantes, isso se você não se importar de que 95% das mulheres são lésbicas e as outras 5% são de mulheres que não fazem idéia de que lugar é o Stones. Alguma coisa me dizia que a noite iria ser boa. Então, subi ao meu apartamento, peguei minhas chaves, celular, dinheiro e desci. Fomos a pé. De primeira, eu me simpatizei muito com um cara e passamos o caminho inteiro conversando, até que resolveram parar em uma praça próxima ao Stones para fumar maconha. Antigamente, maconha era sempre bem-vinda, não importava a ocasião. Acho que o pior problema da maconha é que ela me deixa meio lerda, o que é péssimo para uma sexta-feira a noite numa cidade como essa. Então, fiquei apenas com os meus cigarros, acompanhada do mesmo cara. Na segunda parada, fomos a um lugar chamado “Skina’” para comermos um pouco, depois sem mais problemas chegamos ao Stones. Antes de entrar, eu bebi na porta um copo cheio de uma tal de 61 que quase me fez vomitar. Depois com mais uma dose de alguma coisa eu estava pronta para entrar. O grande problema daquele lugar é que a única coisa que importa é o seu dinheiro e sua aparência. O que era uma desleal concorrência para mim. Quanto maior o seu salto for, melhor. Só que o meu all star já estava rasgado nas bordas. Entramos e procuramos uma mesa para sentar, ficamos uma boa parte do tempo apenas sentados conversando, até que eu resolvi dar uma circulada pelo local. Mal me levantei e um cara me puxou pelo braço e começou com as típicas cantadas que nunca dão certo, mas pelo menos, não foi como de costume: um desconhecido chega, te puxa para um beijo e quando eu menos espero ele desaparece, tudo assim, sem sentido algum e sem trocar palavras. Então, resolvi aceitar o convite dele de me pagar uma bebida. Só que, ele entrou em uma conversa perguntando onde eu morava, com quem eu estava e se ofereceu para me levar embora. Mas, obviamente ele estava à procura de sexo. Ele me disse que morava em Moema. Do mesmo jeito que dois mais dois não são cinco, aquele cara não morava em Moema. Então, eu disse qualquer coisa e dei um jeito de sair de perto dele. Não que isso faria alguma diferença para um cara maior de idade, eu era apenas “mais uma”. E eu não queria ser apenas mais uma, ainda resta razão em minha cabeça. Voltei para a mesa e começamos a beber e falar merda. Enquanto isso eu pensava “Quem diria que minha colega de classe iria me apresentar pessoas tão interessantes?”. Eles realmente eram. Depois de um tempo, o cara que eu mais tinha me simpatizado me chamou para ir lá fora para fumar uns cigarros e eu fui. Estava encostada em uma madeira e então olhei para o lado e vi o homem dos meus sonhos: cabelos pretos ondulados, olhos castanhos escuros, mais ou menos 1,75 cm, branco feito leite e algumas pintinhas espalhadas pelo pescoço. Eu não consegui tirar os meus olhos dele, estava descaradamente admirando-o. Meu companheiro percebeu, lógico. E disse que conhecia a garota que estava com ele, disse que era prima dele, mas não tive coragem de falar-lhe para ir até lá e me levar junto, até porque eu ficaria morrendo de vergonha, não manteria o contato visual nem por dois segundos. Terminei o meu cigarro e quando eu estava entrando, o vi indo em minha direção, provavelmente todos ali perto ouviram o meu coração bater. Ele veio:
- Olá.
Dei um sorriso extremamente tímido e fiquei calada. E ele insistiu:
- Qual seu nome?
Timidez.
- Amanda. E o seu?
- Hm, Amanda... Meu nome é Gustavo. Quantos anos você tem?
- Quinze...
- Sério? Haha.
- Sim. E você?
- Tenho 21. Você é tão nova, mas não aparenta.
Nesse meio tempo, o cara que estava comigo, voltou para a mesa.
- É, idade é algo relativo.
- Concordo. Então, quantos anos você acha que tem, mentalmente?
- Bom, isso eu não posso lhe responder, porque também é relativo. Tem horas em que eu me sinto até que madura, mas em outras... Eu pareço um bebe.
- Por quê?
- Porque depende da pessoa e do assunto em questão.
- Então, eu irei acender um cigarro e se você aceitar, a gente pode conversar e assim eu terei minha conclusão sobre você e pararei de fazer perguntar chatas, hahaha.
- Hahaha, tudo bem.
Depois daí, descobri que ele morava no Rio de Janeiro, o que não foi grande novidade, o sotaque dele era notável. Tivemos divagações sobre relacionamentos, religião, gostos musicais, – ele tem um ótimo gosto musical, só para constar – sobre destino, sobre cidades do interior, sobre empregos, sobre faculdades e até sobre arquitetura. Uma verdadeira chatice. Ou melhor, um assunto muito pesado para uma sexta-feira à noite:
- O céu está meio claro, né? Que horas são?
- Amanda, já é quase cinco da manhã!
- O que? Não pode ser!
Olhei no meu celular.
- Caramba! Era uma e meia quando começamos a conversar. Parece que estamos aqui há meia hora. Onde enfiamos as horas restantes?
- Hahaha, não me pergunte. E preciso dizer que eu me surpreendi. Você é muito interessante. Você tem como ir embora?
- Se meus amigos não me abandonaram, o que é bem improvável, eu tenho. Mas, eu moro bem perto daqui, então não tem problema. Então, acho que já vou indo...
- Eu lhe acompanho, é o mínimo que posso fazer.
- Haha, obrigada.
Até hoje acho que entramos em algum tipo de portal naquela noite, as horas perdidas não faziam sentido e nunca mais voltaram, igual a todas as outras horas perdidas, mas nesse caso foi diferente.
- Isso é verdade. Tudo é tão efêmero, que justamente por isso, esse tempo que passamos juntos é importante.
- Eu sei. Essa é a nossa situação. É provável que a gente nunca mais se veja depois disso, não?
- Você acha mesmo?
- O que você acha?
- Sei lá. Eu não tinha planejado outra viajem.
- É... Eu moro em São Paulo e você no Rio. Vamos tentar outras coisa. Se hoje for nossa unica noite não é tão ruim. As pessoas acabam perdendo o entusiasmo com o passar do tempo.
- Eu detesto isso. Mas, por que os relacionamentos têm de durar pra sempre?
- É, isso é idiotice...
- Então é isso? Está é a nossa única noite?
- Não temos escolha.
- Tudo bem. Será assim. Sem ilusões, sem projeções.
Paramos em um parque próximo a minha casa e ficamos deitados na grama admirando o sol forte, mas que não conseguia nos aquecer.
- Já vivi muitos momentos lindos com outros caras, como viajar ou ver o sol nascer. E eu sabia que eram momentos especiais. Mas sempre havia um problema: eu queria estar com outra pessoa. Eu sabia que o cara não entendia exatamente o que eu sentia. Mas, com você... Estou feliz. Não imagina o quanto uma noite como essa é importante para mim. Mas é.
- Será que vamos ter outras madrugadas como esta?
- E enquanto a nossa decisão racional e adulta?
- É... Mas, sei como é não desejar uma pessoa. No geral, eu não gostaria de estar comigo mesmo. Pense nisso: eu nunca estive num lugar onde eu não estivesse. Nunca beijei alguém sem que eu estivesse dando um beijo. Nunca fui ao cinema sem estar lá, fazendo alguma piada idiota. É por isso que tanta gente se odeia. Elas estão de saco cheio de estarem com elas mesmas. Suponhamos que ficássemos juntos e você começasse a sentir raiva do meu jeito. Já ouvi as minhas histórias, por isso estou cheio de mim mesmo. Mas, ao mesmo seu lado, eu me senti outro. E a única outra forma de me soltar assim é bebendo ou com alguma droga, coisas assim.

Após isso, pude sentir casa centímetro do meu corpo estremecer. Minha alma estava perdida no tempo e descobri que foi assim desde o momento em que o vi. Depois de um tempo, saímos de lá e chegamos à minha casa. Após longos abraços apertados e olhos lacrimejando:
- Diga adeus.
- Adeus.
- Até logo.
- Au revoir. 
Dizem que a alma nunca morre. Por que eu senti a minha indo?