Era sexta-feira. Aconteceu algo inusitado: uma garota da minha classe me chamou para sair com os amigos dela, meio intimidada eu aceitei, mas não levei aquilo muito a sério, afinal, nós não conversávamos direito. Ela disse para eu estar na casa dela as 19:00 horas, mas a minha vontade de ficar em casa olhando o teto era tão atentadora que eu desisti e ensaiei alguma desculpa esfarrapada para dar a ela na segunda. Eram 20:30 e eu havia acabado de sair do banho quando a campainha tocou. Troquei-me rapidamente e sai na varanda e adivinhem? Era ela e seus dez amigos, - muito bonitos, por sinal – então, eu desci com a cabeça baixa, pois não sabia aonde enfiar a minha cara de tanta vergonha por ter “dado o cano’’ nela. Ela foi muito compreensiva e me convenceu a ir ao Stones. Sempre fui uma grande fã do Stones (as casas de todas as casas) e sempre que meu dinheiro permitia, eu passava por lá. Era um ótimo lugar para conhecer pessoas interessantes, isso se você não se importar de que 95% das mulheres são lésbicas e as outras 5% são de mulheres que não fazem idéia de que lugar é o Stones. Alguma coisa me dizia que a noite iria ser boa. Então, subi ao meu apartamento, peguei minhas chaves, celular, dinheiro e desci. Fomos a pé. De primeira, eu me simpatizei muito com um cara e passamos o caminho inteiro conversando, até que resolveram parar em uma praça próxima ao Stones para fumar maconha. Antigamente, maconha era sempre bem-vinda, não importava a ocasião. Acho que o pior problema da maconha é que ela me deixa meio lerda, o que é péssimo para uma sexta-feira a noite numa cidade como essa. Então, fiquei apenas com os meus cigarros, acompanhada do mesmo cara. Na segunda parada, fomos a um lugar chamado “Skina’” para comermos um pouco, depois sem mais problemas chegamos ao Stones. Antes de entrar, eu bebi na porta um copo cheio de uma tal de 61 que quase me fez vomitar. Depois com mais uma dose de alguma coisa eu estava pronta para entrar. O grande problema daquele lugar é que a única coisa que importa é o seu dinheiro e sua aparência. O que era uma desleal concorrência para mim. Quanto maior o seu salto for, melhor. Só que o meu all star já estava rasgado nas bordas. Entramos e procuramos uma mesa para sentar, ficamos uma boa parte do tempo apenas sentados conversando, até que eu resolvi dar uma circulada pelo local. Mal me levantei e um cara me puxou pelo braço e começou com as típicas cantadas que nunca dão certo, mas pelo menos, não foi como de costume: um desconhecido chega, te puxa para um beijo e quando eu menos espero ele desaparece, tudo assim, sem sentido algum e sem trocar palavras. Então, resolvi aceitar o convite dele de me pagar uma bebida. Só que, ele entrou em uma conversa perguntando onde eu morava, com quem eu estava e se ofereceu para me levar embora. Mas, obviamente ele estava à procura de sexo. Ele me disse que morava em Moema. Do mesmo jeito que dois mais dois não são cinco, aquele cara não morava em Moema. Então , eu disse qualquer coisa e dei um jeito de sair de perto dele. Não que isso faria alguma diferença para um cara maior de idade, eu era apenas “mais uma”. E eu não queria ser apenas mais uma, ainda resta razão em minha cabeça. Voltei para a mesa e começamos a beber e falar merda. Enquanto isso eu pensava “Quem diria que minha colega de classe iria me apresentar pessoas tão interessantes?”. Eles realmente eram. Depois de um tempo, o cara que eu mais tinha me simpatizado me chamou para ir lá fora para fumar uns cigarros e eu fui. Estava encostada em uma madeira e então olhei para o lado e vi o homem dos meus sonhos: cabelos pretos ondulados, olhos castanhos escuros, mais ou menos 1,75 cm, branco feito leite e algumas pintinhas espalhadas pelo pescoço. Eu não consegui tirar os meus olhos dele, estava descaradamente admirando-o. Meu companheiro percebeu, lógico. E disse que conhecia a garota que estava com ele, disse que era prima dele, mas não tive coragem de falar-lhe para ir até lá e me levar junto, até porque eu ficaria morrendo de vergonha, não manteria o contato visual nem por dois segundos. Terminei o meu cigarro e quando eu estava entrando, o vi indo em minha direção, provavelmente todos ali perto ouviram o meu coração bater. Ele veio:
Timidez.
- Amanda. E o seu?
- Eu lhe acompanho, é o mínimo que posso fazer.
- Haha, obrigada.
Após isso, pude sentir casa centímetro do meu corpo estremecer. Minha alma estava perdida no tempo e descobri que foi assim desde o momento em que o vi. Depois de um tempo, saímos de lá e chegamos à minha casa. Após longos abraços apertados e olhos lacrimejando:
- Diga adeus.
- Adeus.
- Até logo.
- Au revoir.
Dizem que a alma nunca morre. Por que eu senti a minha indo?
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